Estatística x Relatos
Hoje eu vou tentar esclarecer a diferença entre essas 2 formas de tentar provar uma teoria.
A ciência, tomando o método científico como base, claro, usa a estatística pra provar resultados. A "nova ciência", e todas as suas variações como o veganismo, preferem usar relatos pra tentar provar q algo é correto.
Eu, particulamente, gosto muito da estatística, na verdade adoro. Isso ocorre pq, ao contrário das outras "matérias", a estatística naum determina nada, ela simplesmente comprova.
Por exemplo, a matemática define os números, e dita q 1+1=2... vc naum pode mudar nem questionar isso, é uma determinação. A física do mesmo jeito, determina q com a potência de 1W vc consegue mover um objeto de 1Kg (me corrijam se eu tiver errado a unidade) por 1m em 1s. Isaac Newton descobriu essas características, criou as unidades, definiu as fórmulas, e a gente simplesmente pode seguir, estamos submissos.
História mesma coisa, se bem q nela é possível discutir como fatos aconteceram e talz. Geografia dá nomes pra relevos e é isso aí. Portuga então, é um inferno, os velhotes bebedores de chá criam uma infinidade de regras ambíguas e conflitantes, cheias de exceções e exceções das exceções, q ninguém usa na prática, e as professoras de portuga se esbaldam corrigindo a gente e mandando a gente decorar tudo, se sentindo as todas poderosas donas da sabedoria universal.
A estatística naum. Ela naum determina nada, ela naum dita nada. Ela é submissa aos eventos estudados. Ela simplesmente analiza as ocorrência e diz as frequências. Naum foi ela q determinou, naum foi ela q mandou, ela simplesmente constatou...
Eu naum vou explicar em detalhes aki como a estatística funciona e nem como é usada no método científico, apenas digo q o meio acadêmico leva os estudos muito a sério e relatórios baseados em estatísticas valem muito mais do q resultados teóricos q naum podem ser mensurados. Infelizmente os testes pra gerar os relatórios são muito longos, repetitivos e consequentemente chatos de ser executados e posteriormente analizados. Além de gastar tempo fazendo os testes, eles custam verba, q nunca cai do céu.
É essa "falta de simpatia" dos testes e seus relatórios, q sempre exigem alto conhecimento do leitor sobre o assunto pra q ele possa ser entendido, é oq causa o desinteresse das pessoas q naum são da área sobre uma pesquisa.
Na ciência, o povo fica inerte esperando os resultados finais, q só chega na forma de mudanças no cotidiano, produtos comerciais vendidos em lojas, etc. E entre o início dum estudo até chegar "nos finalmentes" levamos décadas a fio. É um trabalho q envolve muitos pesquisadores.
Já o relato, amado pela "nova ciência" e vegs em geral, é mais light, tranquilo. Vc naum tem q provar nada, naum tem q pesquisar nada, vc vai direto da teoria pra constatação. Se vc acredita q é assim, é pq é assim e pronto. Nem tem q explicar, afinal a explicação seria complexa e chata, os adoradores dos gurus querem simplicidade pra q possam entender.
Eu duvido, mais duvido mesmo, q os gurus da "nova ciência" naum tenham verba pra fazer pesquisas. Doação pra eles é oq naum falta. Indeed, os gurus tem muito mais facilidade de conseguir doações espontâneas do q os cientistas, q precisam mostrar trabalho, fazer várias publicações e entrar em seleções competidíssimas pra conseguir verba pra tornarem suas pesquisas realidade.
Acredito, sim, q eles naum fazem pesquisas pq esses gurus naum tem compromisso nenhum com a Verdade, oq eles querem é só angariar seguidores q façam doações, ou q pelo menos mostrem em grande quantidade o qt ele é adorado e encham ele com aplausos. E, como eu disse, o povo naum liga pra pesquisas e comprovações, afinal elas são muito chatas...
Mas, existe um porém, o povo tb naum é tão otário assim pra sair acreditando numa simples teoria. Eles querem ser convencidos q ela funciona, querem uma prova. E precisa ser uma prova simples de entender, caso contrário ela gera mais dúvidas ainda, q gera desconfiança e depois desinteresse. É preciso uma prova, q seja simples de entender, q dê credibilidade, esperança, certeza. Q seja simpátia e atraia, cative as pessoas. Principalmente mais mais crédulas, interessadas e curiosas.
E, dentre as formas de dar uma prova, é o famoso relato. Nele, é contada a história de 1 ou de umas poucas pessoas, no meio empresariam isso é chamado de casos de sucesso. Já dentro da ciência é chamado de estudo de casos e é usado apenas de forma ilustrativa, nunca substituindo os relatórios estatísticos.
O relato pode ser contato pela própria pessoa q passou pela experiência, como pode ser contato por alguém q presenciou a experiência da pessoa, mesmo q seja um amigo, um amigo do amigo, ou um amigo do tio do primo do amigo q mandou o email pro contato do conhecido do cara q sei lá como tem na sua lista de contatos o email do meu amigo q recebeu o mail em "1ª mão" e passou direto pra mim pra q eu tomasse conhecimento desse fantástido relato.
Aki no site, eu já denunciei várias histórias e hoax contendo relatos, segue alguns exemplos...
- A PRÓXIMA GUERRA (esse aí já começa com "Segue abaixo o relato de uma pessoa conhecida e séria".... )
- hoax da fanta uva assassina
- Jornal usa hoax como fonte de denúncias
- A velha história verídica do roubo de rins
- Golpe em nome do Detran
- Hoax do chiclete assassino
- golpe do cartão de crédito
- relato de um ex-médico sobre os antibióticos
- Ovocausto, ovos de granja
- vários relatos dizendo q bicabornato de sódio cura câncer
- Mais sobre o charlatão do bicabornato de câncer
- A carne q comemos tá cheia de "químicos tóxicos"
- Porque todos devem comer somente alimentos crus
- relatos chocantes sobre a alimentação onívora
- A criança, o coelho e a maçã
Todos esses são casos de relatos, q sempre fazem de tudo pra dar credibilidade ao relator e convencer, muitas vezes usando linguagem simpática e "bonitinha", o leitor dê quê o caso relatado é um fato, e q ele acontece com muita frequência.
O problema do relato nem é se ele é falso ou verdadeiro, se ele realmente aconteceu ou se é uma mentira deslavada, ou imagens forjadas ou fora de contexto pra induzir o leitor ao erro. Isso já seria caso de má fé, e na pesquisa científica isso tb pode existir, mais é aí q a 1ª diferença entre a estatística e o relato aparece, ou melhor, a diferença entre a ciência real e a "nova ciência"...
Como eu já disse em A importância da pesquisa na Ciência, na ciência é sempre cobrado comprovações, provas, de tudo q é dito. Em qqr texto científico, tudo q vc afirma ou vc deve provar ou deve referenciar um artigo de alguém q afirmou e provou. Achismo naum tem espaço na ciência, muito menos levianismo. Vc naum pode sair simplesmente dizendo alguma coisa sem provas, por mais óbvio q a afirmação seja... vc sempre tem q provar. E isso é uma preocupação q deve ser tomada a cada frase, a cada parágrafo do texto. É chato mesmo...
Mas isso traz uma grande vantagem: é muito fácil descobrir informações falsas. Se alguém forja relatórios, só pela leitura deles um pesquisador da área já pode desconfiar, ou então alguém q queira fazer uma pesquisa em cima desses relatórios pode encontrar resultados diferentes, e ele ser desmascarado. É muito difícil um charlatão ou um corrupto se esconder por muito dentro do meio científico, e devido à alta concorrência pelas verbas pra pesquisa, qd descoberto um charlatão tem seu nome jogado na lama passa a ser boicotado, afinal além dele tem outras dezenas de pesquisadores competindo pelas verbas, pq financiar uma pesquisa de alguém q já forjou resultados?
Justamente por causa desse sistema a ciência consegue tanta credibilidade. Os próprios cientistas questionam a si mesmo, procurando chegar cada vez mais perto da Verdade, em vez de simplesmente jogarem palavras ao vento pros q quiserem ouvir, e ignorar qqr crítica ou dúvida q pairar.
Mas a maior diferença entre a estatística e o relato, é tb o motivo pelo qual o relato naum pode ser levado em conta, em nenhuma situação. A estatística mostra relatórios q levam em conta uma grande quantidade de situações, e pra chegar a esses relatórios é usado formas padronizadas de coleta/leitura dos dados, q garante q fatores externos naum vão interferir nesses resultados. E os relatórios mostram variações entre todas as situações coletadas, mostra média, desvio padrão, tendência...
Já o relato naum leva nada disso em conta. Naum é garantido q o resultado apresentado foi causado pelo q ele diz ser a causa, é apenas uma suposição, um achismo. E os gurus quase sempre apresentam só 1 ou uma quantidade insignificante de relatos. Pro povo isso chama mais atenção, pq a história de uma pessoa com nome e sobrenome (mesmo q sejam falsos, assim como o resto da história) é mais comovente do q um relatório cheio de "números frios e impessoais". Mesmo q seja só uma exceção, ou o resultado naum tenha sido causado pelo q o guru alega.
Há poucos dias eu tava lendo coisas poraí e encontrei 2 textos q servem como bons exemplos de como um texto com caráter científico é feito. Eles falam sobre o efeito do Membro Fantasma, q é qd uma pessoa tem um membro amputado mas continua sentindo como se ele ainda estivesse lá, na maioria das vezes sentido até dor.
Os textos são muito simples de ler, naum parecem ser publicações e parecem ser voltados pro público em geral, mas mantêm a característica científica, resumindo os resultados de várias pesquisas q tentam descobrir as causas da Dor Fantasma, seus efeitos e sintomas, a frequência q ocorrem, qd começa e qt tempo dura.
O 1º texto é mais user friendly e a leitura é mais light, o 2º é mais técnico, com bibliografia e cheio de referências. Note q ambos são lotados de porcentagens e de quantidade de casos pesquisados, q é justamente a apresentação dos relatórios da estatística aplicada. É ridículo tentar comparar um estudo q levou em consideração 2000 casos com o relato de 1 pessoa só...
Note tb, além das referências bibliográficas, a preocupação em citar autores e citar q as afirmações já foram comprovadas, oq dá mais credibilidade. Um exemplo é na frase "Feinstein mostrou e Noordenbos confirmou", o 1º pesquisador notou o fato e citou nos seus relatórios, mas ficou devendo provas, então veio o 2º pesquisador, tomou a pesquisa do 1º como base, e conseguiu a comprovação... no caso q ele tava realmente certo. Algum guru ou historinha bonitinha se prontifica a dar a cara a tapa assim?
E neles tb sempre é falado oq pode acontecer de forma geral, informando a probabilidade de acontecer. Em relatos, apenas falam oq aconteceu na situação relatada, q só vale prakela situação específica, sem garantia nenhuma q volte a ocorrer em outra situação (mas q eles adoram dizer q é 100% garantido a repetição!). Nem empirismo pode ser empregado, já q os casos relatados são tão poucos e são apenas os casos de sucesso, ocultando e deixando de lado todos os casos q naum foram bem sucedidos.
Infelizmente os textos citam gráficos q naum estavam mais disponíveis...
Dor
Sintomas da dor do membro fantasma (http://www NULL.drashirleydecampos NULL.com NULL.br/noticias NULL.php?noticiaid=15706&assunto=Dor)
02/06/2005
Pessoas que perderam um braço ou perna freqüentemente percebem o membro como se ele ainda estivesse lá. Alguns sentem, concomitantemente a isso, fortes dores associadas ao mesmo – a dor do membro fantasma. Este tipo de dor que a princípio assinala uma lesão corporal grave pode persistir, estender-se, intensificar-se, até tornarem-se doenças em si (a dor pode tornar-se mais intensa que a associada à lesão original).
Secção de um nervo periférico devida à perda de parte do corpo é quase invariavelmente seguida por uma inconsciência da parte desenervada; mas fenômenos foram observados por volta do século 15, quando foi chamada a atenção pacientes que após amputarem as pernas sentiam fortes dores na parte perdida. Estes casos eram interpretados por algumas pessoas como prova da imortalidade da alma.
Membro fantasma é uma natural – e atualmente esperada – conseqüência da amputação, a qual raramente apresenta problemas terapêuticos. Mas eventualmente o fantasma se torna o lugar de severa e insuportável dor, sendo o maior obstáculo para o sucesso da reabilitação da amputação. Embora a ausência ou não da de dor no membro fantasma sejam abordadas no mesmo espectro clínico. Há alguns conceitos distintos:
- Dor fantasma = sensação dolorosa referente ao membro perdido
- Dor do coto = dor no local da extremidade da amputação
- Membro fantasma = qualquer sensação do membro perdido exceto dor.
Embora seja conhecida a sintomatologia das seqüelas neurológicas pós-amputatórias, o mecanismo da dor fantasma e fenômenos relatados são ainda hipotéticos. Serão mostrados adiante os sintomas e sinais da seqüela pós amputação e seu curso natural.
Um entendimento dos aspectos clínicos da amputação é um pré-requisito para oferecer uma explanação plausível sobre o fenômeno do membro fantasma e para o tratamento das sensações desagradáveis associadas com tais fenômenos.
Sintomas e Sinais
Dor Fantasma
A Dor Fantasma é definida como aquela referente a retirada cirúrgica de um membro ou parte dele, porém esse termo não tem um conceito clínico muito bem definido. Ela compreende um indefinido e incomparável fenômeno sensorial. Dor no coto da amputação e dor no membro antes da amputação (dor pré-amputação) são distintas de dor fantasma propriamente dita. Outros fenômenos sensoriais como parestesias e feridas não podem ser incluídas no termo “dor fantasma”.
A delimitação clínica da dor fantasma é dificultada por diferenças no limiar da dor e na sua tolerância de um amputado para outro, soma-se a isso ainda o modo como as sensações dolorosas são relembradas e descritas.
Freqüência da Dor Fantasma
A dificuldade de definição da dor fantasma é claramente refletida no estudo da freqüência dos casos. A tabela abaixo demonstra a grande variação: em algumas pesquisas a dor é relatada por 2% dos pacientes, número que em outras pode variar até 97%. A proporção relativa dos amputados em grupos "com dores crônicas" e "sem dores crônicas" varia inevitavelmente de um estudo para o outro, dependendo da definição que se dá às palavras "crônica" e "queixa".
Dores Fantasma severas são geralmente relatadas em 0,5-5% dos casos. O número de pacientes que seguem algum tratamento analgésico também varia. Numa pesquisa em que 50-75% dos pacientes relataram dor fantasma, somente 20% faziam tratamento para sua dor.
Em outro estudo muitos amputados com dor fantasma tinham a impressão que de os médicos consideravam sua dor pura imaginação.
Referências da dor Fantasma
A dor está presente na primeira semana após a amputação em 50-75% dos casos, mas ela pode aparecer após meses ou até vários anos.
Localização da dor
A dor fantasma está localizada principalmente na parte distal dos membro fantasma. Assim, temos por exemplo uma pesquisa realizada com 64 pacientes que tiveram suas pernas amputadas acima do nível do joelho e que apresentavam dor fantasma.
Resultado:
66% tinham dor no pé os nos dedos
39% tinham dor na panturrilha
6% tinham dor na coxa
O gráfico acima mostra a distribuição da dor fantasma em amputados em diferentes intervalos de tempo após a perda do membro. Percebe-se claramente que a maioria das dores fantasma localizam-se na parte distal do membro.
Tipos de Dor Fantasma
Existe uma grande variedade de descrições de amputados em que as dores parecem pouco ou não tem nenhuma semelhança com uma experiência sensorial anterior. Muitos consideram que a dor é bastante diferente para ser comparada a um caso dito típico de dor fantasma: sentir que a mão ou pé comprimem os dedos, apertando as unhas dentro da palma da mão ou planta do pé. Entretanto, 16% dos pacientes relatam esse tipo de dor. Há tipos de dor como ardor, aperto, compressão são relatados pela maioria.
A carência geral de estudos nos quais os fenômenos da pré-amputação são recordados pelos pacientes trazem dificuldades em determinar a validade das informações sobre esse tipo de dor.
Duração da Dor Fantasma
É geralmente dito que a dor fantasma diminui gradualmente e finalmente desaparece durante os primeiros anos. Parkes (1973) fez uma pesquisa aonde 63% dos pacientes apresentavam dores fantasmas médias ou severas imediatamente após a amputação do membro; após 13 meses somente 30% dos pacientes ainda apresentavam dor intensa. Outros pesquisadores relataram que 50-75% dos amputados tem dor fantasma após muitos anos. Num estudo de Sherman com 2694 pacientes amputados que apresentavam dor fantasma, 51% tem dor mais de 6 dias/mês e 44% não notaram diminuição da dor durante 30 anos.
Entretanto, a carência na seleção dos pacientes, junto com a falha de distinção entre as diferentes categorias de dor fantasma, tornam difícil determinar o curso temporal e estimar exatamente a incidência da persistência da dor fantasma.
Noutro estudo, a incidência da dor fantasma uma semana, 6 meses e dois anos após a amputação foi de 72, 65 e 59% respectivamente. Embora a incidência da dor fantasma não ter diminuído significativamente durante os 2 anos seguintes, a duração e a freqüência dos ataques de dor diminuíram significativamente. Assim, 2 anos após a amputação, somente 21% dos pacientes tinham ataques diários de dor e nenhum apresentava dor constante.
A dor severa persiste somente em uma pequena fração dos amputados, na ordem de 5 –10%.
Modulação sobre a dor Fantasma
A experiência de um membro fantasma, doloroso ou não, varia consideravelmente entre os indivíduos e mesmo no próprio paciente. Muitos estímulos internos e externos modulam a Dor Fantasma. As zonas de gatilho podem estender-se do mesmo lado ou do lado oposto do corpo.
O quadro abaixo mostra fatores relatados pelos amputados que modificam a experiência dolorosa:
Feinstein mostrou e Noordenbos confirmou que a cauterização da medula por injeção salina hipertônica no tecido do espaço interespinhal L4-L5 aumenta a dor no membro fantasma e daí produz um conhecimento de todo o membro perdido por um longo, geralmente permanente, alívio da dor.
Isto prova que a experiência de dor fantasma é um resultado não de um único evento, mas da interação de vários efeitos neuronais.
Dor da pré-amputação
Muitos casos relatam que pacientes que tiveram dor no membro antes da amputação estão mais susceptíveis a apresentar dor pós-amputação. As características dessa dor (tipo, localização, modulação...) parecem-se muito com as da dor experimentada antes da amputação. Muitos estudos, porém não todos propuseram que a dor fantasma é mais freqüente em pacientes que sofreram de grave dor pré-amputação do que naqueles que não apresentaram esse tipo de dor. Num estudo encontrou-se 44 pacientes que provavelmente tiveram experiência dolorosa pré-amputação. Em 57% deles a dor fantasma era bem similar à experiência vivida anteriormente.
O gráfico abaixo mostra a proporção de amputados, que desenvolveram dores fantasmas similares ou diferentes quanto à localização e tipo que a dor da pré-amputação.
(I = 8 dias após após amputação; II = 6 meses após; III = 2 anos após)
Lesão do Sistema Nervoso
Uma experiência de membro fantasma estabilizado, doloroso ou não, pode ser drasticamente mudada por lesões no cérebro e na medula espinhal. Um infarte no cérebro na parte posterior da cápsula interna faz o membro fantasma desaparecer. Disfunções cerebrais transitórias podem mudar o fantasma temporariamente. Lesões na medula espinhal podem aumentar ou apagar a experiência do membro fantasma.
Fatores psicológicos
O grande impacto psicológico da perda de um membro é evidente e vários distúrbios emocionais surgem na adaptação física e social: depressão, amargura, pena de si mesmo estão várias vezes presentes em pacientes com membro fantasma. É evidente que distúrbios emocionais podem engatilhar e agravar a dor.
Parkes sugeriu que as queixas de dor persistente eram relatadas em pacientes com personalidade forte.
Embora fatores emocionais provavelmente influenciem na ocorrência e persistência da dor, não se sabe se distúrbios emocionais são a causa da dor fantasma. Os aspectos motivacionais e afetivos de qualquer síndrome de dor crônica dificultam, claro, a determinar se desordens emocionais são manifestações da dor ou determinantes etiológicos.
Assim, não há evidências óbvias de que distúrbios de personalidade são mais freqüentes em casos de amputados com dor fantasma que em casos sem dor.
Outros fatores
O significado da causa e nível da amputação no desenvolvimento e persistência da dor é controverso. Alguns estudos acharam que dor fantasma é mais comum em amputados por acidentes militares e dos membros superiores do que em amputados civis e dos membros inferiores. Porém, há estudos que encontraram resultados opostos. Estudos sobre sexo, lado, nível, idade ou causa não relatam dados relevantes.
Autores propõem que a perda repentina do membro é um fator necessário para a ocorrência do fenômeno, mas a perda gradual do membro devido à lepra não previne a ocorrência do membro ou dor fantasma, como constatado por Price (1976).
Dor do coto
A literatura raramente distingue entre dor do coto e dor fantasma. Dor imediata pós – operatório se segue após a maioria das intervenções cirúrgicas e a amputação de um membro não é exceção à regra.
Um estudo comprovou que a dor do coto ocorre em 50% dos casos durante a primeira semana. O interessante é que a dor persiste apesar de uma ferida estar aparentemente curada. Esta dor é comumente descrita como uma sensação de pontos mais delicados, sensíveis; sensações de pontadas ou de corrente elétrica; os quais estão precisamente localizados no coto e freqüentemente no aspecto posterior a sua cicatriz.
Estas dores podem ser facilmente engatilhadas por estimulação do coto com agulhadas ou pressionando os neuromas. Uma variante desse tipo de dor é a denominada “nerve storm” com ataque doloroso de até 2 dias de duração. A dor é aguda, com disparos aumentando e diminuindo de minuto a minuto. Há também sensação de queimação do coto que pode ser iniciada por toque de luz e se igualmente caracterizar como a síndrome da dor do coto. Em casos mais tardios o coto pode aparecer atrofiado, frio, cianótico e suado.
Movimentos espontâneos denominados coréia do coto, tic doloroso, “epilepsie du moignon” compõem parte da dor fantasma. Estes movimentos duramente visíveis como contrações musculares súbitas e involuntárias do coto são raramente relatados. Em algumas pesquisas 57% dos pacientes sofrem a dor do coto imediatamente após a amputação. No início do período pós-operatório a dor do coto é comumente associado a agulhadas, fincadas, etc., características que gradualmente mudam para uma dor maior, do tipo queimação ou esmagamento. A dor fantasma é significantemente mais freqüente nestas amputações com a dor do coto do que naquelas sem a mesma.
Patologia do coto associada com dor fantasma e/ou dor do coto
Exames do coto freqüentemente revelam precisamente patologias encontradas que podem explicar a dor do coto e/ou a dor fantasma:
- Patologias da pele
- Distúrbios circulatórios
- Infecções da pele, tecido adjacente ou ossos.
- “Esporas nos ossos”
- Neuromas
É importante como sempre enfatizar que apesar da dor fantasma e do coto serem mais freqüente em pacientes com a patologia do coto do que em pacientes sem patologia encontrada, ela pode ocorrer em pacientes com cotos perfeitamente curados. Isto significa ou que as condições periféricas não são o único fator responsável pela sor ou que a habilidade de detectar mudanças patológicas na periferia é insuficiente. Uma sistemática análise da sensibilidade do coto nas amputações não tem sido concluída. Num trabalho inicial é preciso notificar cuidadosamente que a examinação da sensibilidade do coto revela áreas de sensibilidade alterada (por exemplo – hipoalgesia, hiperalgesia, hiperpatias ou alodínia) em quase todas as amputações.
O significado desses distúrbios sensoriais na periferia para o fenômeno do membro fantasma é dado como desconhecido.
Dor após lesão de nervos
Após qualquer lesão de nervos, há um risco potencial de que se desenvolva uma dor persistente na área atingida, seja qual for a etiologia e a localização da lesão.
A amputação representa a forma mais radical de lesão de nervos . Michell (1872) introduziu o termo causalgia para um tipo de dor em queimação após grandes lesões que ocorriam freqüentemente em campos de batalha.
Dores geradas por lesões de nervos compartilham varias características vistas nas dores causadas por neuropatias:
- início demorado;
- sensações anormais, usualmente do tipo de queimação;
- ataques de dores em formas de punhaladas e fisgadas;
- dor na área com déficit sensorial;
- dor provocada por estímulos inócuos (alodínia);
- desenvolvimento de sensações geradas após impulsos repetitivos.
A tabela abaixo , mostra algumas características e características diferenciais de vários tipos de dor de lesão em nervos:
Como pode-se observar a partir da tabela acima, a dor após a amputação é quase idêntica à encontrada na causalgia, com exceção da hiperatividade simpática. Enquanto alguns autores consideram a hiperatividade simpática como uma característica da causalgia, esta visão não é aceita por todos. Lesões do nervo mediano e do nervo esquiático são aquelas mais freqüentemente associadas com a causalgia, enquanto que lesões do nervo radial raramente produzem causalgia. A Causalgia usualmente ocorre após lesões proximais e tipicamente a dor é referida a partes distais do membro. O envolvimento variável do sistema nervoso simpático na dor relacionada à lesão de nervos confirma termos como dor simpático-dependente e dor simpático-independente.
Membro Fantasma
Experiências com pacientes que possuem um membro fantasma podem variar consideravelmente desde uma precisa e distinta réplica da parte perdida até uma transitória, vaga e formigante sensação em partes do membro inexistente.
Definiu-se então como membro fantasma a experiência de possuir um membro ausente que se comporta similarmente ao membro real e sensações de membro fantasma como vários tipos de sensações referidas ao membro ausente.
Segundo pesquisas quase a totalidade de pessoas amputadas tem a sensação de realidade do membro.
Freqüência
Estudos indicam que 80 a 100% dos amputados vão experimentar sensações de membro fantasma em algum momento após amputação.
O membro fantasma é raramente observado em amputações congênitas ou em crianças amputadas antes de 6 anos de idade.
Características clínicas
Apesar de variações, a experiência com membro fantasma demonstra características tão comuns que o fenômeno pode ser dividido em categorias.
1.) Sensações Simples:
- toque
- temperatura
- pressão
- coceira
- outros
2.) Sensações Complexas
- postura
- comprimento
- volume
3.) Movimentos
- Movimentos desejados
- Movimentos espontâneos
- Movimentos associados
Algumas vezes o senso de realidade do membro perdido é tão vívido que o defeito somático é esquecido. Sensações simples e complexas e sentimentos de movimentos contribuem para a imagem do membro fantasma.
Sensações Simples
Sensações cutâneas do tipo formigamento, pontadas, calor, frio, coceira são reportados. Normalmente são sensações indiferenciadas e de localização difusa.
Sensações Complexas
A maioria das pessoas amputadas tem um senso de posição, comprimento e volume do membro amputado. A posição sentida pode ser relaxada, fixa ou distorcida. Por exemplo: o braço pode ser sentido relaxado ao lado do corpo, movendo livremente durante caminhada ou estar em uma posição com o cotovelo flexionado e o antebraço sobre o peito. Em aproximadamente 10% dos pacientes o membro é percebido em posições distorcidas e bizarras assimilando à posição imediatamente antes da amputação.
Berger e Gerstenbrand (1981) encontraram membros fantasmas em 33 de 37 pacientes com lesões espinhais sendo que na maioria a posição fantasma se assemelhava à posição do acidente.
Movimentos
Mais de 50% dos amputados experimentaram movimentos do membro mais freqüente em braços e amputações distais. Os movimentos podem ser desejados geralmente se restringirem a movimento de flexão e extensão.
As sensações do membro fantasma podem ser aumentadas ou atenuadas por fatores externos e estímulos internos (defecação, micção, ejaculação, mudança de temperatura, atenção visual, pensamento no membro, emoções, etc)
Apesar da sensação do membro poder resistir constante por anos seguidos o membro fantasma em via de regra passa por importantes mudanças nos dois primeiros anos após a amputação.
Telescoping
Esse é um fenômeno que se refere ao encolhimento do membro onde os dedos das mãos os dos pés gradualmente e de maneira difusa aproximam-se dos coto até estarem acoplados a este.
O tempo decorrido até o desenvolvimento do fenômeno telescoping estar completo varia mas o processo é geralmente completado no primeiro ano. A maioria dos autores concordam que o fenômeno do telescoping acorre em 25 a 75% dos casos e mais freqüentemente em amputações de braço que de pernas.
O nível onde foi feita a amputação não influencia nem a incidência do fenômeno de telescoping ou a freqüência que ele acorre. As partes distais do membro fantasma, entretanto, retém seu tamanho normal por mais tempo que as partes proximais. Isto pode resultar em experiências como mãos gigantes ou dedos acoplados ao coto, ou mesmo uma mão esmagada ou apertada em um coto pequeno.
São usualmente membros indolores que encurtam. A dor do membro pode prevenir ou retardar o desenvolvimento do telescoping e um membro que já sofreu o problema do telescoping pode temporariamente aumentar durante os ataques de dor.
Separadamente dessa regressiva deformação em tamanho e comprimento do membro, a freqüência e a intensidade das sensações do membro fantasma também diminuem com o passar do tempo. Foi constatado que após o primeiro ano de sensações fantasmas o membro está sujeito a somente pequenas mudanças. O fenômeno também muda de localizações principalmente proximais e distais ao longo do tempo.
Usualmente somente pequenas “ilhas” do membro perdido são sentidas. Por exemplo: nas mãos o polegar e o indicador são as principais partes sentidas, enquanto na perna, o dedo maior e o calcanhar são as partes mais vividamente sentidas. Em nenhuma instância a forma de experiência do membro fantasma corresponde a suprimentos de nervos periféricos conhecidos ou dermátomos particulares.
Obs.: Sensações de membro fantasma podem ser sentidos após amputação de partes do corpo que não são membros tais como nariz, globo ocular, língua, dente, pênis, reto e seio.
www.icb.ufmg.br
IMPORTANTE
* Procure o seu médico para diagnosticar doenças, indicar tratamentos e receitar remédios.
* As informações disponíveis no site da Dra. Shirley de Campos possuem apenas caráter educativo.
Publicado por: Dra. Shirley de Campos
Membro-fantasma: o que os olhos não vêem, o cérebro sente (http://www NULL.cienciasecognicao NULL.org/artigos/v12/m347199 NULL.htm)
Phantom-limb: what the eyes don’t see, the brain feels
Alessandra de Oliveira Demidoff", a, Fernanda Gallindo Pachecoa e Alfred Sholl-Franco", b
aFaculdade de Medicina, Centro de Ciências da Saúde (CCS), Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil; bPrograma de Neurobiologia, Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho (IBCCF), Centro de Ciências da Saúde, UFRJ, Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil
Resumo
Os estudos sobre membro-fantasma se iniciaram a partir de relatos de pessoas que sofreram amputação de algum membro, lesão de plexo braquial ou até mesmo em pacientes tetraplégicos que diziam sentir sensações da presença do membro perdido ou inativo, as quais muitas vezes eram dolorosas. Durante muito tempo, acreditava-se que a origem da sensação fantasma era psíquica, no entanto, sabe-se hoje que tal fenômeno está relacionado também com o fisiológico, a partir da reorganização cortical, que consiste em alterações estruturais na representação topográfica dos mapas corticais. O objetivo deste trabalho é abordar os diversos fatores que ocasionam a sensação de membro fantasma, assim como seus principais sintomas além de apresentar experiências já realizadas em indivíduos portadores deste fenômeno. © Ciências & Cognição 2007; Vol. 12.
Palavras-chave: membro-fantasma; dor fantasma; imagem corporal; homúnculo de Penfield; reorganização funcional cortical.
Abstract
The researches about phantom limb begun with relates of people that suffered limb amputation or brachial plexus avulsion, and even in tetraplegic subjects that related the feeling of the lost or inactive limb, and many times these feelings were painful. During many time, we believed that the cause of the phantom limb feeling was psychic, but nowadays we know that this phenomenon is related to a physiological cause as well, whit the cortical reorganization, that consist in structural modifications in topographic representation of the cortical maps. The aim of this work is to point the different factors that cause the phantom limb feeling and the principal symptoms of this phenomenon, as well as show experiences already develop in subjects that present this phenomenon. © Ciências & Cognição 2007; Vol. 12.
Keywords: phantom limb; phantom pain; corporal image; Penfield’s homunculus; cortical functional reorganization.
Introdução
Pode-se definir como membro fantasma a experiência de possuir um membro ausente que se comporta similarmente ao membro real, assim como sensações de membro fantasma a vários tipos de sensações referidas ao membro ausente (Rohlfs e Zazá, 2000). A sensação da presença do membro ou do órgão após a sua extirpação é descrita por quase todos os doentes que sofreram amputação e muitas vezes vem associada a dor que varia em intensidade e duração de caso para caso.
Muitos indivíduos afirmam que o fantasma se manifesta de forma rígida e que, em muitos casos, estão na posição em que perderam o membro. Além disso, relatam que quando o membro se movimenta em direção a um objeto, o fantasma penetra neste objeto, podendo também atravessar o próprio corpo do paciente. Um outro relato consiste no fato de que, muitas vezes, uma parte do membro amputado desaparece, permanecendo apenas, a extremidade distal do mesmo (Schilder, 1989).
A sensação de ter um membro fantasma durante muito tempo despertou em muitos o medo da loucura, sendo motivo de segredo e até mesmo vergonha. Muitos indivíduos omitiam dos médicos a sensação de ter um membro fantasma, devido ao receio de serem considerados insanos, entretanto, com o passar do tempo, as hipóteses psicológicas foram cedendo lugar para as hipóteses fisiológicas.
A sensação fantasma pode ser compreendida como uma superposição cortical de áreas vizinhas, que pode ocorrer, por exemplo, pela invasão do território representativo da face sobre o território da mão, ou até mesmo pelo desmascarar de sinapses silenciosas.
Variações de membro-fantasma
A sensação de membro fantasma pode se manifestar nos indivíduos em diferentes situações, como por exemplo: amputação de algum membro, em casos de aferição de plexo braquial, e, até mesmo em situações de tetraplegia (Conceição e Gimenes, 2004). Segundo Ramachadran e Blakeslee (2002) não são apenas pernas e braços fantasmas, há muitos casos de seios fantasmas em muitas pacientes que sofreram uma mastectomia radical (retirada da mama). Um outro registro foi um caso de apêndice fantasma onde o paciente se recusava a acreditar que o cirurgião o tinha retirado devido às dores que persistiam.
Sabendo-se que o fenômeno da sensação fantasma pode se manifestar em variadas circunstâncias, as situações mais comuns serão descritas mais detalhadamente, juntamente com algumas pesquisas realizadas em pacientes que possuem a sensação fantasma.
Sintomas
A sensação de ter um membro-fantasma é muito real. Muitos indivíduos relatam que, logo que perderam a perna, sentiram o impulso de sair da cama e andar, e acabaram caindo, outras pessoas com mãos fantasmas já tentaram, até mesmo, atender o telefone. Esses fatos são conseqüências da vívida sensação de um membro fantasma.
Dentre os sintomas descritos por pacientes com sensação de membro fantasma, os que se apresentam com maior freqüência são: a dor “fantasma”; dormência; queimação; câimbra; pontadas; ilusão vívida do movimento do membro fantasma, ou até mesmo, apenas a sensação de sua existência. Em casos de lesão do plexo braquial, são relatados também; estiramento da mão inteira que irradia para o cotovelo; constrição do pulso; espasmos da mão e descargas elétricas na mão e cotovelo (Giraux e Sirigu, 2003).
Uma outra sensação de membro fantasma já observada consiste no desaparecimento de partes do membro, permanecendo apenas, a extremidade distal do membro, o que pode ser explicado com base no fato de que o modelo postural do corpo se desenvolve especialmente em contato com o mundo externo. Sendo assim, as extremidades corporais que mantêm um contato mais estreito e variado com a realidade tendem a ser mais presente que as demais (Schilder, 1989). Além disso, pode ser observado o fenômeno de duplicação de membros, caso dificilmente encontrado, no qual pacientes relatam ter a vivida sensação da presença de outros dois membros, paralelamente com seus membros reais (Conceição e Gimenes, 2004)
O que é a dor fantasma?
A dor fantasma é uma sensação dolorosa referente ao membro (ou parte dele) perdido que pode se apresentar de diversas formas tais como ardor, aperto, compressão ou até mesmo uma dor intensa e freqüente. A proporção relativa dos amputados em grupos “com dores crônicas” e “sem dores crônicas” varia de um estudo para o outro, dependendo da definição que se dá às palavras “crônicas” e “queixa”, sendo então esta dor relatada por 2 % dos pacientes, número que em outras pode variar em até 97 %. A dor normalmente está presente na primeira semana após amputação, mas ela pode aparecer após meses ou até vários anos, estando localizada principalmente na parte distal do membro fantasma. A duração da dor fantasma varia de acordo com cada indivíduo, entretanto a dor severa persiste em apenas uma pequena fração dos amputados, na ordem de 5-10 % (Rohlfs e Zazá, 2000).
Muitos estímulos internos e externos modulam a dor fantasma, dentre os fatores relatados pelos amputados que modificam a experiência dolorosa estão os fatores agravantes da dor, os quais são a atenção, emoção, toque no coto ou pressão, mudança de temperatura, reflexos autônomos, dor de outra origem, colocação de uma prótese. E ainda, os fatores que aliviam a dor, que são o descanso, distração, movimentos do coto, uso de uma prótese, elevação do coto, percussão ou massagem no coto. Isto prova que a experiência de dor fantasma é um resultado não de um único evento, mas da interação de vários efeitos neuronais (Rohlfs e Zazá, 2000).
Quando ocorre a desaferenciação (perda da inervação sensorial de uma região) ou a amputação de um membro as informações sensoriais periféricas se tornam inteiramente ausentes, fazendo com que neurônios no sistema nervoso central que até então recebiam informações daquela parte do corpo se tornem anormalmente hiperativos. Na dor do membro fantasma, a ausência dessas informações sensoriais faz com que neurônios nas vias nociceptivas se tornem excessivamente ativos. A superposição extensa de representações corticais que, normalmente estão separadas se relacionam com a intensidade da dor do membro, ou seja, a reorganização cortical maciça pode aumentar esse fator. Brugger e colaboradores (2000) apresentaram importantes evidências de que o crescimento pós-lesão e o novo padrão de conexões estabelecidas por neurônios no cérebro de amputados podem ser possível causa do problema.
Psíquico versus fisiológico
Durante milênios acreditava-se que as sensações em partes ausentes do corpo eram de origem psíquica, entretanto, a partir deste século, as explicações psíquicas foram cedendo lugar às explicações fisiológicas.
Grande parte de nossas informações sensoriais está relacionada com áreas específicas do córtex pós-central, de modo que permitem a construção de mapas sensorial, destacando-se aqui o mapa somato-sensorial presente no giro pós-central (Schilder, 1989). Como resultado, cada indivíduo tem uma imagem interna que é representativa do próprio ser físico, sendo esta conhecida como “imagem corporal”.
A imagem corporal é construída de acordo com as percepções, idéias e emoções sobre o corpo e suas experiências, podendo ser, constantemente, mudada. Sendo assim, o fantasma de uma pessoa amputada seria a reativação de um padrão perceptivo dado pelas forças emocionais. Está claro que o quadro final de um fantasma depende grandemente de fatores emocionais e da situação de vida do indivíduo. Depois da amputação, o indivíduo sofre um grande impacto psicológico e vários distúrbios emocionais surgem na adaptação física e social, o que lhe faz enfrentar uma nova situação, mas como reluta em aceitá-la, acaba tentando, inconscientemente, manter a integridade de seu corpo (Schilder, 1989).
Desse modo, o membro-fantasma pode ser entendido como a interação entre o que se detecta ao nível periférico (corpo) e o que se integra ao nível central (mente), sendo criada então, a aparência final do corpo no sistema nervoso. Como o ser humano está acostumado a ter um corpo por completo, o fantasma acaba sendo a expressão de uma dificuldade de adaptação a um defeito súbito de uma parte periférica importante do corpo. Além desse fator, o córtex cerebral, que possui um mapa sensorial das partes do corpo, ainda possui uma área de representação da região amputada, o que dificulta o cessar das sensações corporais. Assim, as sensações de membro fantasma são caracterizadas por fatores psíquicos e fisiológicos, que agem, conjuntamente para expressar tal fator.
Arrumando a bagunça: o fenômeno de reorganização funcional do córtex cerebral
As áreas de representação cortical, denominadas mapas corticais (e.g. homúnculo de Penfield) podem ser modificadas através da plasticidade neural a partir de alterações estruturais (adaptativas) por estímulos sensoriais, experiência, aprendizado, e após lesões cerebrais (Lundy-Ekman, 2004). Assim, em indivíduos que sofreram amputação ou lesão do plexo braquial é que podemos observar alterações sinápticas que podem explicar o proceso de fortalecimento (desinibição) de sinapses anteriormente silenciosas. No sistema nervoso normal, muitas sinapses parecem não ser usadas, a não ser que a lesão de vias acarrete um maior uso das sinapses até então silenciosas (Farnè et al., 2002).
Estudo de casos
A organização cortical é alterada após alguma perda sensorial, sendo assim, áreas que antes eram ativadas pelo membro amputado passam a ser invadidas por neurônios de áreas não alteradas cujas representações tenham localizações próximas no córtex. Na amputação de mãos a área da face “invade” a área da mão, consistente com os relatos de estimulação tátil da face induzindo sensações de mão fantasma em amputados. O sistema motor mostra, portanto uma capacidade substancial de plasticidade (Farnè et al., 2002).
Pacientes que tiveram seus membros superiores transplantados após uma amputação possibilitaram o estudo de reversibilidade da organização cerebral após lesão periférica, utilizando-se de análises de ativações de M1 antes e após o transplante, observando suas evoluções ao longo do tempo. Em um estudo (Giraux et al., 2001) os resultados mostram que as mãos transplantadas são ativadas e reconhecidas pelo córtex sensório-motor, sendo que as novas entradas periféricas permitiram uma remodelagem global do mapa cortical das extremidades e reverteram à reorganização induzida pela amputação. As representações de mão e braço tendem a retornar a seus locais originais; este estudo tenta explicar essa reversibilidade cortical dizendo que em macacos com segmentos amputados, motoneurônios eferentes rompidos preservam sua eficácia funcional direcionando-se para novos músculos (Farnè et al., 2002). Como os neurônios eferentes e aferentes da via central sobrevivem após serem cortados, o circuito sensório motor pode estar funcionalmente pronto após o transplante, podendo explicar as mudanças na atividade cortical poucos meses após o transplante de membro.
Em um outro caso, descrito por Conceição e Gimenes (2004), um paciente tetraplégico referia ter uma vívida sensação de duplicação de membros. Dizia possuir um par de mãos que se situavam paralelamente ás mãos normais e duas pernas igualmente situadas paralelamente ás pernas reais. O paciente também referia que o par de braços cruzava em cima do peito e lhe causavam dificuldades respiratórias. A pesquisa realizada, neste caso, utilizou a técnica de biofeedback, que é usada na aprendizagem de controle voluntário de respostas fisiológicas específicas. No fim do tratamento o paciente apresentou como resultado a eliminação total da queixa, resultando na recuperação da capacidade motora funcional.
Uma outra maneira de encontrarmos o membro fantasma é através da lesão de plexo braquial, onde o paciente parece sofrer com a sensação do membro perdido assim como a dor a ele relacionada, mesmo não havendo a perda física do membro (amputação). Giraux e Sirigu (2003) mostraram que em pacientes com lesão de plexo braquial onde eram aplicados testes com exposição a movimentos virtuais do membro verificou-se que há indução de mudanças plásticas na representação cortical do membro danificado e que esta plasticidade estava relacionada a mudanças na sensação de dor fantasma. A gravação dos movimentos da mão normal que eram refletidos por um espelho dava ao paciente a ilusão de que quando ele realizava determinado tipo de movimento era o seu membro afetado que estava realizando, sendo ele instruído a mexer com o membro fantasma ao olhar para o espelho. Foi observada uma melhora significante na avaliação da atividade do córtex entre o pré e pós-treinamento assim com a diminuição da dor para esses pacientes sendo que dos 3 avaliados 2 reduziram sua medicações no final da pesquisa graças à diminuição da dor.
Considerações finais
Apesar de não se saber ao certo a origem da sensação do membro fantasma, sabe-se que esta é baseada tanto em fatores psíquicos como em fatores fisiológicos. Sabe-se também que ainda não existe um tratamento específico para tal fenômeno. Entretanto, existem terapias e medicamentos que são utilizados para a redução da dor, sem contudo terem se mostrado eficazes para a cura da dor fantasma e de suas sensações. Desse modo, como não existe, ainda, uma cura para o fascinante fenômeno das sensações fantasmas, muitos indivíduos precisam se adaptar com essa situação, como descrito no relato:
“Hoje sou altamente conformista de que sou amputado e vivo bem como estou. Porém, como vivi 34 anos com a perna e há cinco anos e meio sem a perna, em todos os meus sonhos à noite, eu tenho a perna. O cérebro, o inconsciente ainda mantém a memória anterior. Hoje eu sou um grande jogador de tênis nos meus sonhos, coisa que eu não era antes. É muito comum eu sonhar com uma partida inteira, desde o primeiro ponto até o final, ganhando ou perdendo. Acordo suado e feliz por ter jogado uma partida de tênis, com a perna que eu não tenho.” (Disponível no endereço eletrônico: http://www.amputadosvencedores.com.br/fenomeno_membro_fantasma.htm (http://www NULL.amputadosvencedores NULL.com NULL.br/fenomeno_membro_fantasma NULL.htm)).
Sendo assim, este trabalho propôs-se a realizar uma breve revisão da literatura, de forma a identificar as informações mais objetivas e acuradas a respeito da sensação do membro fantasma, tema de extrema importância e ainda pouco explorado nos ambientes acadêmicos e clínicos de nosso país.
Referências bibliográficas
Brugger, P.; Kollias, S.S.; Müri, R.M.; Crelier, G.; Hepp-Reymond, M.C. e Regard, M. (2000). Beyond re-membering: phantom sensations of congenitally absent limbs. Proc. Natl. Acad. Sci. U.S.A.. 23, 6167-6172.
Conceição, M.I.G. e Gimenes, L.S. (2004).Uso de biofeedback em paciente tetraplégica com sensação de membro fantasma. Interação em Psicologia, 8 (1), 123-128. Disponível no endereço eletrônico: http://calvados.c3sl.ufpr.br/ojs2/index.php/psicologia/article/viewFile/3246/2606 (http://calvados NULL.c3sl NULL.ufpr NULL.br/ojs2/index NULL.php/psicologia/article/viewFile/3246/2606).
Farne, A.; Giraux, P.; Roy AC.; Dubernard JM e Sirigu A. (2002). Face or hand, not both: perceptual correlates of correlates of reafferentation in a former amputee. Cur. Biol., 12, 1342-1346.
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Lundy-Ekman, L. (2004). Neurociência: Fundamentos para reabilitação. 2 ª edição. (pp.125-137). Rio de janeiro: Editora Elsevier.
Ramachadran, V.S. e Blakeslee, S. (2002). Fantasmas no Cérebro - uma investigação dos mistérios da mente humana. (Machado, A., Trad.). Rio de Janeiro: Editora Record.
Rohlfs, A e Zazá, L . (2000). Dor fantasma . Universidade federal de Minas Gerais (MG). Disponível no endereço eletrônico: http://www.icb.ufmg.br/neurofib/NeuroMed/Seminario/DorFantasma/f6.htm (http://www NULL.icb NULL.ufmg NULL.br/neurofib/NeuroMed/Seminario/DorFantasma/f6 NULL.htm).
Schilder, P. (1989). A imagem do corpo: As energias construtivas da psique. São Paulo: Editora Martins Fontes.
Teixeira, M.J.; Imamura, M. e Peña Calvimontes R.C. (1999). Phantom pain and limb amputation stump pain. Rev. Med., 78, 192-196.
Nota sobre os autores
" – A.O. Demidoff é Monitoras de Neurofisiologia, Programa de Neurobiologia (IBCCF, UFRJ) e Graduanda do Curso de Fisioterapia, Faculdade de Medicina (UFRJ). E-mail para correspondência: alessandrademidoff@gmail.com (alessandrademidoff null@null gmail NULL.com); F.G. Pacheco é Monitora de Neurofisiologia, Programa de Neurobiologia (IBCCF, UFRJ) e Graduanda do Curso de Fisioterapia, Faculdade de Medicina (UFRJ). E-mail para correspondência: nandagp_fisio@hotmail.com (nandagp_fisio null@null hotmail NULL.com); A. Sholl-Franco é Biólogo (FAMATh), Especialista em Neurobiologia (UFF), Mestre e Doutor em Ciências (UFRJ). Atua como Professor (IBCCF, UFRJ) e Orientou este trabalho. Endereço para correspondência: Sala G2-032, Bloco G, CCS, Programa de Neurobiologia, IBCCF, UFRJ. Av. Brigadeiro Trompowiski S/N, Cidade Universitária, Ilha do Fundão, Rio de Janeiro, RJ 21.941-590, Brasil. Telefone: +55 (21) 2562-6562. E-mail para correspondência: asholl@biof.ufrj.br (asholl null@null biof NULL.ufrj NULL.br).
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